Prejuízos do ‘Brasil Ilegal’ somaram em todo o país R$ 453,5 bilhões em 2022
Eólica offshore pode ampliar em 3,6 vezes capacidade de energia no país, aponta CNI
Estudo mapeia as áreas em alto mar com maior potencial e os principais setores a serem beneficiados. PI, CE, RN, RJ, ES e RS têm mais oportunidades de exploração. Mas ainda há barreiras para a atividade
A fonte
eólica, que usa a força dos ventos para produção de energia, já é conhecida no
Brasil. A presença de turbinas em terra, no entanto, não é a única forma de
geração de eletricidade. É possível colocá-las também no mar, a chamada energia
eólica offshore.
Realidade
na Europa, Ásia e América do Norte, a eólica offshore começou a dar seus
primeiros passos no Brasil, com pedidos de licenciamento no Ibama:
- Até
30 de agosto deste ano, o órgão ambiental contabilizava 78 pedidos de
licenciamento, somando 189 GW de potência instalada – quase a capacidade
total de energia já instalada centralizada no país e conectada ao Sistema
Interligado Nacional (194 GW).
A
capacidade de exploração e as principais barreiras para o desenvolvimento de
projetos constam do estudo Oportunidades
e desafios para geração eólica offshore no Brasil e a produção de hidrogênio de
baixo carbono – elaborado pela Confederação Nacional da Indústria (CNI) e que será lançado
na terça-feira (12), em Brasília, no evento pré-COP 28. O encontro vai reunir o
setor produtivo, o governo e a sociedade civil para debater assuntos da
Conferência da ONU sobre Mudanças Climática, que vai ocorrer em Dubai entre os
dias 30 de novembro e 12 de dezembro.
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Confira sonora com Davi Bomtempo, gerente-executivo de Meio Ambiente e
Sustentabilidade da CNI.
A
consolidação dessa cadeia de valor no Brasil pode impulsionar a economia e
facilitar a retomada da industrialização. Além de oferecer uma fonte de energia
limpa e renovável, o setor vai:
- atrair
empregos e investimento;
- estimular
o desenvolvimento tecnológico e científico;
- apoiar
a promoção do hidrogênio de baixo carbono no país.
Potencial
brasileiro
Globalmente,
estima-se que 260 GW podem ser gerados até 2030, elevando o total global de
instalações eólicas offshore
para 316 GW ao final desta década. Para isso, estão previstos investimentos na
ordem de US$ 1 trilhão.
Os números
globais ainda não repercutiram no Brasil, cujo aproveitamento do potencial energético offshore, de cerca de 700 GW (3,6
vezes a capacidade de energia já instalada no país), segue inexplorado. Mas por
onde começar?
A CNI
mapeou uma faixa costeira e identificou as regiões com maiores oportunidades de
exploração:
- no
Nordeste,
é observada uma grande área de viabilidade na costa entre o estado do Piauí, do Ceará e no Rio Grande do Norte;
- também
há uma área de grande interesse no Sudeste,
entre os estados do Rio
de Janeiro e do Espírito
Santo;
- e,
na região Sul,
observa-se uma área no estado do Rio
Grande do Sul, na Lagoa dos Patos.
Com cadeias
de suprimentos maduras nos setores relacionados à energia eólica onshore,
petróleo e gás, o Brasil tem bagagem e experiência para alavancar a produção offshore nesses estados. Por
exemplo, a ABEEólica, associação que reúne mais de 100 empresas do setor eólico
no Brasil, tem 23 integrantes que estão alocados na categoria “Engenharia,
Consultoria e Construção” e que poderão estender seus serviços para a indústria
eólica offshore.
Além de
ajudar o Brasil no cumprimento das metas definidas pelo Acordo de Paris, há a
expectativa de que o setor eólico – onshore
e offshore
incluídos – empregue cerca de 2,2
milhões de pessoas até
2030 e mais 2,1 milhões até 2050 no mundo, segundo a Agência
Internacional de Energias Renováveis.
- ACORDO DE PARIS: o Brasil deve reduzir as emissões de gases de efeito
estufa (GEE) em 37% até 2025 e em 50% até 2030, tendo como base as
emissões de 2005. Além disso, no ano passado, o Brasil se comprometeu a
alcançar emissões líquidas neutras até 2050.
O
conhecimento desenvolvido sobre energias renováveis, a extensa costa e a
localização privilegiada para acessar os mercados com as maiores demandas para
importação do hidrogênio podem colocar o Brasil como um forte competidor na
geração de energia eólica offshore.
Essa modalidade, inclusive, integra a estratégia da CNI para uma economia de
baixo carbono e impulsioná-la é uma das prioridades do Plano de Retomada da Indústria,
apresentado pela Confederação ao governo federal neste ano.
Como
aproveitar esse potencial?
O decreto
10.946, de janeiro de 2022, trouxe o regulamento sobre a cessão de uso de
espaços físicos e o aproveitamento dos recursos naturais em águas para o
desenvolvimento da energia eólica offshore.
Mas a natureza do ato não foi suficiente para trazer segurança jurídica aos
investidores.
Para que o
Brasil ocupe um lugar de destaque no mapa mundial, é preciso um marco
regulatório que traga previsibilidade e regras claras. Nesse sentido, tramita
no Congresso Nacional um projeto de lei que regulamenta o modelo de cessão de
áreas, a cobrança de outorgas e os critérios para a realização dos leilões.
Hidrogênio
de baixo carbono
Uma das
questões levantadas pelo estudo da CNI é como o setor elétrico vai absorver
toda essa expectativa de desenvolvimento e expansão da geração. O hidrogênio de
baixo carbono, então, surge como um caminho para viabilizar os projetos.
O
hidrogênio pode ser produzido a partir de diversas rotas. Hoje, a maior parte é
produzida a partir de rotas fósseis, sendo cerca de 71% por meio do gás natural
e 27%, da gaseificação do carvão. Apesar disso, o hidrogênio pode ser adquirido
a partir da eletrólise com fontes de energia elétrica renovável, a exemplo da
eólica offshore.
Ainda que o
hidrogênio de baixo carbono provavelmente só tenha mercado consumidor em cerca
de dois a três anos, a CNI avalia que é preciso iniciar acordos, memorandos de
entendimento e desenvolvimento de infraestrutura para o país se posicionar no
mercado.
Veja os
setores da indústria que mais podem ser beneficiados:
- na
siderurgia,
o hidrogênio de baixo carbono pode ser usado na produção de aço, conhecido
como aço verde;
- as
refinarias
também são consumidoras de hidrogênio cinza em larga escala. Produzido a
partir da reforma do gás natural, o hidrogênio cinza poderia ser substituído
pelo hidrogênio de baixo carbono;
- outra
alternativa de descarbonização considerada muito potente é a produção de metanol usando
hidrogênio de baixo carbono, além de suas aplicações nos setores de
transporte e de armazenamento de energia elétrica;
e há ainda grande oportunidade de se utilizar o
hidrogênio produzido a partir de energia eólica offshore para o desenvolvimento de fertilizantes. Em 2022,
o Ministério do Desenvolvimento, Indústria, Comércio e Serviços (MDIC)
registrou que 45,6% dos fertilizantes e adubos compostos por nitrogênio foram
importados pelo Brasil.
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