IMPRENSA
29 de September de 2022 - 14h35

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Amazônia: atividades de baixo carbono aliam desenvolvimento à conservação florestal

Debate promovido pelo Instituto Amazônia+21 e pela CNI abordou potencial de descarbonização da economia para a região

 

Buscar caminhos efetivos para a descarbonização da produção industrial e dos demais setores na Amazônia Legal e possibilitar o desenvolvimento de negócios sustentáveis na região. Esse foi o objetivo do debate promovido pelo Instituto Amazônia+21 e pela Confederação Nacional da Indústria (CNI) nesta quarta-feira (28). A primeira edição da Jornada de Negócios e Sustentabilidade discutiu meios, projetos e ações para a região Amazônica se beneficiar da corrida global pela descarbonização, apresentando o potencial de negócios e as oportunidades de melhoria de vida para as comunidades tradicionais.


Na abertura do evento, transmitido online pelo canal da CNI no Youtube, o diretor do Instituto Amazônia+21 e presidente da Federação da Indústria do Estado de Rondônia (FIERO), Marcelo Thomé, destacou que as oportunidades para descarbonização na região são diversas e não se restringem somente à venda de crédito de carbono.


“Trata-se de pensar uma nova indústria, mais adequada à região e que seja menos emissora de gases de efeito estufa no seu processo produtivo. Temos diversos exemplos, no Brasil, de setores que avançaram fortemente na redução de emissões, como o sucroalcooleiro de segunda geração, que hoje tem saldo positivo na sua cadeia. Em Rondônia, a empresa Energisa, que é parceira do Instituto Amazônia+21, por meio de investimentos em rede de distribuição na ordem de R$ 1 bilhão, permitiu o desligamento de diversas térmicas e com isso evitou a emissão de cerca de 300 mil toneladas de gases de efeito estufa. São exemplos que evidenciam diversas oportunidades que temos na região Amazônica”, disse.


Thomé destacou ainda o potencial de geração de créditos de carbono na região. Segundo o diretor, somente do ponto de vista florestal, a Amazônia representa 17% do estoque de carbono do planeta. “Isso pode e será disruptivo do ponto de vista econômico, de geração de prosperidade, riqueza, bons empregos e dignidade para os 29 milhões de brasileiros que vivem nessa região”.


O secretário nacional da Amazônia e Serviços Ambientais do Ministério do Meio Ambiente, Marcelo Freire, destacou que, além do mercado de carbono, é preciso olhar para o potencial da região no aspecto das atividades produtivas de baixa emissão de carbono. Ele também reforçou que a região tem potencial para ser uma referência internacional de um grande centro global de produção de baixa intensidade de carbono e a questão do financiamento está cada vez mais ligada às questões ambientais.


“A questão do carbono está cada vez mais presente na tomada de decisão da alocação de recursos mundo afora. Para uma multinacional, quanto mais operações tiver em lugares de baixa intensidade de carbono, mais está diluindo a pegada [de carbono] das operações”, destacou. “Sob o olhar da indústria isso é extremamente importante. Este é o grande diferencial vocacional e competitivo da indústria nacional”, disse.

 

Experiências sustentáveis em desenvolvimento na região


A Fundação Jari e o Grupo Ultra são exemplos de empresas que já desenvolvem iniciativas sustentáveis na região. Representantes das duas instituições, que são associadas do Instituto Amazônia+21, participaram do encontro e compartilharam as experiências.


A Fundação Jari desenvolve no município de Almeirim, no Pará, um projeto REDD+ para manejo florestal e conservação da biodiversidade numa área de 500 mil hectares, garantindo proteção ambiental e investimentos para a comunidade. Baseadas em um modelo de desenvolvimento econômico que valoriza a floresta, as atividades do projeto são viáveis porque combinam o manejo florestal de baixo impacto com a comercialização dos créditos de carbono.


O coordenador de Operações Sociais da instituição, Jorge Rafael Almeida, destacou que entre os principais desafios para o desenvolvimento da região estão o ordenamento territorial, a disponibilização de assistência técnica e o investimento em soluções energéticas. “Não dá para falar de bioeconomia e de descarbonização sem uma política séria de fiscalização ambiental. Qualquer iniciativa de ESG na Amazônia prescinde do bem-estar das pessoas que nelas vivem, das pessoas que tiram da floresta o seu sustento. O recado, então, para as indústrias que querem investir na Amazônia é pensar em soluções integradas com políticas públicas, de crédito, extensão rural e transferência de tecnologia”, afirmou.


A gerente executiva de Sustentabilidade e Impacto Social do Grupo Ultra, Ligia Camargo, destacou a importância de olhar para a implementação de uma iniciativa ou estratégia de sustentabilidade de uma maneira transversal e consolidada e de aprimorar a mensuração dos impactos para a Amazônia. “Alavancar esse olhar de oportunidades com a floresta faz com que a gente mude também a relação das empresas com a floresta. A gente tem que deixar de olhar porque a Amazônia é importante e começar a olhar o que é importante para a Amazônia”, destacou.


Lígia explicou que o grupo tem atuado na descarbonização das atividades por meio de inovação e tecnologia, novos modelos de negócios e parcerias. “A Ipiranga, por exemplo, já é neutra em carbono desde 2014 e está investindo em iniciativas de mobilidade e eficiência energética buscando usar menos produtos carbono intensivos”. 

 

Financiamento para ações climáticas é um dos principais desafios


O gerente de Meio Ambiente e Sustentabilidade da CNI, Davi Bomtempo, destacou que o financiamento é uma das principais barreiras quando se fala em sustentabilidade, tanto no Brasil como no ambiente internacional, e atinge especialmente micro e pequenas empresas. O tema deve ser uma das discussões centrais da COP27 – Conferência das Nações Unidas sobre Mudanças Climáticas - que acontecerá em novembro, no Egito.


“A CNI vem mapeando o fluxo de capital internacional dedicado a ações para as mudanças climáticas e ESG, e a gente começa a perceber grandes barreiras, principalmente quando olhamos para micro e pequenas empresas. São esses os mais afetados, geralmente em função do desconhecimento dessas fontes de recursos e dificuldades em como acessá-los”. Segundo Bomtempo, as garantias coletivas podem ser uma solução para resolver para ajudar esse tipo de empreendimento.


O superintendente da Área de Gestão Pública e Socioambiental do Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES), Julio Costa Leite, explicou que uma das dificuldades relacionadas a crédito na Amazônia é a falta de garantia. Para suprir essa lacuna, a instituição deverá lançar um fundo garantidor para micro e pequenas empresas na região. Também informou que o banco disponibilizou este ano um instrumento novo, chamado blended finance, que envolve disponibilização de recursos privados para financiar questões socioambientais. O BNDES recebeu mais de 50 propostas, que demandariam investimento de R$ 5 bilhões, e estão em fase de avaliação.


E, para fomentar o mercado voluntário de carbono, o banco lançou uma chamada, no valor de R$ 100 milhões, para projetos dedicados à venda de créditos. “Há muitos desafios e gargalos, mas há também oportunidades são grandes. Amazônia está no centro do debate da questão climática e o mercado de carbono representa grande potencial a ser explorado”, afirmou.


Empresas mais engajadas no tema sustentabilidade


As empresas brasileiras estão se engajando cada vez mais no tema da sustentabilidade. Segundo Rebeca Lima, diretora executiva do CDP Latin America, 48 grandes empresas do Brasil – de um total de 200 na América Latina - utilizam a plataforma da organização para mensurar seus impactos e divulgar suas práticas ambientais. A maior parte são de setores de manufatura, alimentos, agricultura e bebidas. 


Ela destacou que, quando se medem os riscos e oportunidades relacionados à adequada gestão dos recursos naturais, há muito mais ganhos do que perdas. Os riscos reportados ao CDP pelas empresas que estão engajadas à organização somam US$ 758 milhões, já as oportunidades chegam a US$ 1,4 bilhão - possível ganho financeiro com a materialização das oportunidades florestais em relação ao potencial de impacto financeiro ou estratégico nos negócios.


Rebeca destacou ainda a importância dos sistemas de rastreabilidade das commodities de risco florestal para fortalecer as cadeias produtivas e, ao mesmo tempo, atrair investimentos tanto do setor empresarial quanto de investidores. Segundo ela, 80% das empresas que reportam ao CDP têm mecanismos já estabelecidos, mas ainda há muito espaço para melhoria do ponto de vista de ambição. “Apenas 30% desses sistemas atingem critérios de liderança, ou seja, envolvem cobertura da cadeia, trabalhando com todos os fornecedores até a ponta, envolve ecossistemas inclusivos”, explicou.


O CPD também identificou como tendência o aumento da participação do setor financeiro na discussão sobre proteção das florestas, embora abaixo de discussões sobre mudanças climáticas, o que revela um descasamento entre as duas políticas. Cerca de 50% das instituições financeiras engajam seus clientes em temas florestais, enquanto 88% engajam em temas relacionas a mudanças climáticas e somente 37,5% oferecem produtos que evitam o impacto nas florestas, enquanto 94% oferecem produtos que evitam o impacto climático. Nesse sentido, há muitas oportunidades a serem exploradas.


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