Presidente da FIERO participa da COP29 e defende o protagonismo da indústria Amazônica
Brasil precisa de R$ 295 bilhões para modernizar mobilidade urbana nas principais cidades
Estudo da
CNI mostra que 74% dos municípios com mais 250 mil habitantes cumpriram lei e
elaboraram planos de mobilidade. Entre os que têm de 20 mil a 250 mil, índice é
de apenas 13%
O Brasil
precisa investir R$ 295 bilhões até 2042 em infraestruturas de mobilidade
urbana nas 15 principais regiões metropolitanas do país. Essa é a quantia
necessária para equiparar a infraestrutura de transportes desses municípios ao
padrão da Cidade do México e Santiago, cidades referência na oferta de
transportes urbanos na América Latina. A estimativa está no estudo inédito da Confederação Nacional da Indústria (CNI) Mobilidade Urbana no Brasil: marco
institucional e propostas de modernização.
O caminho
para que essas regiões metropolitanas brasileiras cheguem a um nível de
excelência, no entanto, é longo. É preciso superar a falta de financiamento,
fator apontado pelo estudo como o maior gargalo para a expansão dos transportes
urbanos no Brasil. A CNI defende que sejam viabilizadas fontes de
investimentos, com recursos nacionais e estrangeiros, além de participação
pública e privada.
“É
importante ampliar o número de Parcerias Público-Privadas em um modelo de PPP
que agrupe a construção do sistema, da operação e da manutenção, em contratos
de concessão de duração relativamente longas, em torno de 30 anos”, destaca o
gerente-executivo de Infraestrutura da CNI, Wagner Cardoso. “Pode-se afirmar que o
país subinveste e subfinancia o transporte coletivo e inversamente privilegia e
subsidia o transporte individual motorizado, inclusive na precificação dos
combustíveis fósseis utilizados por automóveis e veículos individuais”,
acrescenta.
>>> Acesse
aqui a sonora com Ramon Cunha, Especialista em Infraestrutura da CNI, sobre o
estudo.
De acordo
com o estudo, as evidências apontam que o Brasil não apenas diverge de
experiências internacionais de sucesso na mobilidade urbana sustentável, como
também deteriorou sua posição de referência na América Latina. Exemplo disso é
que o país aparece entre as economias com a menor parcela de veículos elétricos
– somente as cidades de Santiago e Bogotá têm três vezes mais ônibus elétricos
em operação que em todo território brasileiro.
Alocação
dos investimentos e expansão das malhas
Dos R$ 295 bilhões estimados para a modernização da mobilidade urbana no país, R$271 bilhões precisariam ser destinados para expansão de linhas de metrô. Conforme destaca o estudo, esse montante equivale ao necessário para mais do que dobrar a extensão da malha vigente. Em seguida, estão os investimentos para ampliação das estruturas de rede de trens (R$15 bilhões) e de BRTs (R$9 bilhões).
Lei de
Mobilidade Urbana
O estudo
aponta que 74% dos 116 municípios brasileiros com mais de 250 mil habitantes
cumpriram os prazos estipulados pela Lei de Mobilidade Urbana, que estabeleceu
que essas cidades elaborassem e aprovassem um Plano de Mobilidade Urbana (PMU)
até abril do ano passado. A mesma lei determinou que todos os municípios com
população entre 20 mil e 250 mil pessoas apresentassem um PMU até 12 de abril
de 2023.
Entre as
1.908 cidades nessa situação, apenas 13% atestaram – até setembro do ano
passado – ter um plano de mobilidade, de forma que cerca de 87% desses
municípios teriam um horizonte pequeno (até abril deste ano) para elaborar e
aprovar um plano municipal e, portanto, garantir o financiamento de projetos do
setor. “É importante assegurar que municípios sem plano não recebam
financiamento federal per capita superior a cidades com planejamento aprovado”,
enfatiza Wagner Cardoso.
O
diagnóstico referente às maiores regiões metropolitanas brasileiras é de que as
cidades cresceram, foram amplamente urbanizadas, mas os transportes não
acompanharam o ritmo de crescimento dessas metrópoles. Entre as recomendações
estão investir em transporte coletivo e transporte individual não motorizado.
As 15 regiões metropolitanas avaliadas no trabalho são: Brasília, São Paulo,
Rio de Janeiro, Curitiba, Belo Horizonte, Goiânia, Belém, Fortaleza, Natal,
Salvador, João Pessoa, Maceió, Porto Alegre, Recife e Teresina.
“A
urbanização não foi acompanhada por um planejamento voltado à redução das
distâncias percorridas pelos cidadãos, para a qual o adensamento das cidades e
a melhor distribuição de suas principais funções – moradia, trabalho, serviços
e lazer – constituiriam seu alicerce”, diz o estudo.
Um dado
relevante é que, em geral, as cidades com maiores níveis de renda têm maior
demanda por transporte individual. Isso pode explicar por que em Curitiba 49%
das viagens são feitas de carro ou moto, apesar do reconhecido sistema de BRT
(Bus Rapid Transit) e de a cidade apresentar uma boa infraestrutura de transportes
para os padrões brasileiros.
Por outro
lado, em Salvador e Recife – que possuem uma rede de transporte público menos
estruturada –, esse modal representa somente 22,1% e 16,7%, respectivamente. Já
no Rio de Janeiro, a baixa participação dos transportes individuais (19,5%)
pode estar associada a uma confluência de fatores ligados tanto a um menor
nível de renda de amplos setores da população metropolitana, quanto à
existência de uma extensa – ainda que precária – rede de transportes na metrópole.
Chama a
atenção o subaproveitamento nas nossas metrópoles da bicicleta como um modal de
transportes. De fato, em todas as RMs brasileiras, a participação da bicicleta
oscilava entre 0,8% e 2,4%, em contraposição a cerca de 4% em Santiago, 7% em
Bogotá e 13% na capital da Alemanha.
Transporte
de qualidade impacta na produtividade do trabalhador
Para o setor industrial, um sistema eficiente de mobilidade urbana
é relevante em múltiplos sentidos, na medida em que o tempo de deslocamento dos
trabalhadores, o conforto do usuário, além dos custos diretos envolvidos no
movimento casa-trabalho-casa, afeta diretamente a produtividade e os gastos
associados ao transporte.
“Esse desgaste diário afeta não apenas a concentração e capacidade
do funcionário, mas sua assiduidade e probabilidade de afastamento por doenças.
Nesse sentido, a modernização do sistema seria essencial para melhorar a
competitividade da indústria, além de estimular a cadeia produtiva voltada ao
transporte público de média e alta capacidade”, pontua o estudo.
Ao longo
das últimas décadas, o Brasil empreendeu importantes avanços de natureza
institucional no aperfeiçoamento da mobilidade urbana, de modo que o país
dispõe de um moderno ordenamento jurídico que disciplina não apenas o
planejamento, mas também a execução de políticas no setor. No entanto, uma
mudança mais profunda da estrutura e organização das cidades brasileiras deve
caminhar paralelamente ao desenvolvimento de um sistema de transportes capaz de
encurtar o tempo de deslocamento, prover maior conforto aos usuários e integrar
os diversos modais de forma a não penalizar aqueles que, por falta de
alternativas, vieram forçados a residir distantes dos centros de serviços e
empregos.
País
priorizou transporte privado
Os dados
analisados pelo estudo mostram que o preço da gasolina é um balizador da
escolha modal. Nos últimos 15 anos, excluindo o período mais recente, o aumento
do preço da gasolina foi inferior ao aumento das tarifas de transporte público
coletivo, o que, na prática, sinaliza um barateamento relativo das viagens com
transporte privado em detrimento das viagens com meios de transporte públicos.
Home office
reduziu demanda
O estudo
aponta também que mudanças significativas nos padrões de deslocamento urbano
estão em andamento, particularmente com o aumento do trabalho sob a forma de
home office e do comércio digital – processo que foi acelerado com a pandemia
de Covid-19 –, e do advento do transporte por aplicativo – ainda não captado em
sua magnitude por boa parte das pesquisas. Nas duas maiores metrópoles
brasileiras, por exemplo, a demanda por transportes coletivos ainda se encontra
bastante abaixo ao último ano pré-pandemia: em São Paulo, as viagens de metrô e
de ônibus em 2022 estão cerca de 25% abaixo dos níveis de 2019; no Rio de
Janeiro, a queda da demanda por metrô é de mais de 30% e a de ônibus, da ordem
de 15%.
Recomendações para a ampliação e modernização dos sistemas de
mobilidade urbana:
- Assegurar
instrumentos mais efetivos para a modernização dos sistemas de mobilidade, com
o aperfeiçoamento institucional e de governança no âmbito dos municípios, e uma
lei municipal como ferramenta de efetivação dos planos de mobilidade;
- Dotar as
regiões metropolitanas de estruturas de governança mais efetivas, transferindo
as atribuições da gestão da mobilidade urbana para uma instituição de natureza
metropolitana voltada exclusivamente à mobilidade;
-
Viabilizar fontes para o financiamento de investimentos de infraestrutura de
mobilidade urbana, estimados para as 15 maiores regiões metropolitanas em R$
295 bilhões até 2042. Nesse sentido, é importante ampliar o número de Parcerias
Público-Privadas em um modelo de PPP que agrupe a construção do sistema,
operação e manutenção, em contratos de concessão de duração relativamente
longas (em torno de 30 anos); e
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