Presidente da FIERO participa da COP29 e defende o protagonismo da indústria Amazônica
Pequenas indústrias mostram insatisfação com condições financeiras há 10 anos
Principal razão é a dificuldade de acesso ao crédito que enfrentam. No ranking de principais problemas, a elevada carga tributária foi a questão mais assinalada na década
O Panorama da
Pequena Indústria (PPI)
fez um balanço dos últimos dez anos e constatou que as pequenas
indústrias apresentam insatisfação com a situação financeira há uma década. O
principal fator é a dificuldade de acesso ao crédito que enfrentam. A pesquisa
da Confederação Nacional da Indústria (CNI) também mostra que
a elevada carga tributária foi o problema mais assinalado pelas pequenas
indústrias na série histórica. O levantamento traz ainda dados sobre o
desempenho nos anos anteriores e as expectativas para os próximos meses de
2024.
“As
pequenas indústrias são as mais penalizadas com as mudanças econômicas como,
por exemplo, o aumento da taxa básica de juros. Também são as que tem menos
disponibilidade de recursos para lidar com eventuais problemas. Por esses e
outros motivos, os últimos dez anos não foram fáceis para as MPEs industriais e
o Panorama detalha
esse cenário”, explica a economista da CNI, Paula Verlangeiro.
>> Confira a
sonora com a economista da CNI, Paula Verlangeiro.
Entre 2013
e 2023, os pequenos empresários industriais dos setores de construção e de
transformação registraram dificuldade de acesso ao crédito em todos 40
trimestres analisados. O índice ficou abaixo da média histórica em 21 dos 40
trimestres para a indústria de transformação, enquanto ficou abaixo da média
histórica em 24 dos 40 trimestres para a pequena indústria de construção.
Análise da
situação financeira das MPEs industriais
Em 2016, o Índice de Situação Financeira
marcou o pior resultado da série com 29,5 pontos, reflexo do aumento das taxas
de juros, que atingiu o maior patamar do período no terceiro trimestre de 2015,
14,25% ao ano. De 2015 a 2019, o indicador teve altas e baixas, mas sempre se
manteve abaixo da média histórica (38,4 pontos).
Só em
meados de 2020 que o índice se recuperou e, inclusive, registrou o maior valor
da série (43,1 pontos). Um dos motivos foi a criação dos programas de apoio e
incentivo às MPEs para superar a crise de Covid-19, como o Programa Nacional de
Apoio às Microempresas e Empresas de Pequeno Porte (Pronampe) e o Programa
Emergencial de Acesso a Crédito (PEAC), que facilitaram o acesso ao crédito para os pequenos
industriais.
Vale
destacar que, apesar disso, o Índice
de Situação Financeira nunca alcançou a marca de 50 pontos, que
separa avaliações favoráveis de desfavoráveis. Isso se deve, principalmente,
pela dificuldade de acesso ao crédito percebida em todos os segmentos.
“Por mais
que os programas tenham oferecido um respiro, não foi suficiente para dizer que
as pequenas empresas industriais estejam financeiramente bem e recuperadas. Uma
das iniciativas que pode ajudar os empresários a acessarem o recurso certo é o Núcleo de Acesso ao Crédito (NAC), da CNI, que presta
consultoria e orientação sobre linhas de financiamento por todo país”, reforça
a economista.
E agora?
Em 2023, o
aumento da inadimplência fez com que os bancos adotassem critérios mais rígidos
para concessão de crédito, como exigir mais garantias, oferecer prazos menores
e, inclusive, custos maiores. No segundo semestre do ano, o Banco Central
começou a reduzir a taxa básica de juros, 0,5 ponto percentual em cada uma das
quatro reuniões do Comitê de Política Monetária (Copom).
Embora a
medida não produza efeitos imediatos para as pequenas empresas, já melhora a
expectativa dos empresários, refletido no Índice
de Situação Financeira, que apresentou aumento e fechou o ano com
42,2 pontos.
Elevada
carga tributária foi principal problema nos 10 anos
O Panorama da Pequena Indústria
traz o ranking dos
principais problemas enfrentados pelas indústrias de pequeno porte em cada
trimestre, segmentado por segmento industrial (transformação e construção)
desde 2015.
Apesar das
oscilações ao longo da década, um dos problemas que permaneceu com alto
percentual de assinalações, independentemente do segmento, foi a elevada carga
tributária. A metodologia do Panorama
considera apenas o número de empregados por estabelecimentos (10 a
49 no caso de pequenas empresas). Portanto, há empresas que não são tributadas
pelo Simples Nacional na amostra e há empresas que se enquadram no regime.
Ambas demonstram que são, frequentemente, penalizadas pelo sistema tributário
complexo e oneroso.
O Simples é
um regime de tributação para MPEs, que permite o pagamento unificado de
diversos impostos em uma única guia, como ICMS, ISS, PIS, COFINS, IRPJ, CSLL,
entre outros. O cálculo é feito com base no faturamento mensal da empresa.
Taxas de
juros e competição desleal também incomodam pequenas indústrias
No quarto
trimestre de 2023, os principais problemas percebidos pelos pequenos empresários
da indústria de transformação foram: elevada carga tributária, demanda interna
insuficiente e competição desleal (como informalidade e contrabando). Esse
último problema ganhou força desde 2021 e agora ficou na terceira posição. Isso
evidencia a necessidade de promover uma concorrência saudável, com ações para
coibir práticas que possam prejudicar a competitividade.
Para as
indústrias de construção, do primeiro trimestre de 2021 ao terceiro trimestre
de 2023, as taxas de juros elevadas sofreram aumento contínuo nas assinalações.
O setor é diretamente afetado pelas altas dos juros, que prejudica tanto os
empresários ao encarecer os recursos para projetos, quanto os consumidores por
também dificultar o financiamento para aquisição de imóveis.
O que as
pequenas indústrias esperam para o futuro?
Durante a
última década, as pequenas empresas industriais enfrentaram desafios, mas
também tiveram algumas oportunidades e se mostram resilientes. Um dado que
comprova isso é o crescimento do número de micro e pequenas indústrias, de 433
mil para 459 mil. Esses negócios empregam mais de 3,4 milhões trabalhadores
formais e a soma do salário deles chega a R$ 85 bilhões por ano, segundo
levantamento da CNI, com base na Relação Anual de Informações Sociais (RAIS).
O Índice de Confiança do Empresário
(ICEI), que captura como o empresário percebe as condições atuais,
quais são suas expectativas e, com essas informações, antecipa as mudanças e as
tendências das atividades dos industriais, registrou 51,2 pontos em janeiro de
2024. O indicador está acima da linha divisória de 50 pontos, que separa
confiança da falta de confiança.
“A
confiança e as perspectivas estão melhorando, especialmente, por conta da
redução da taxa de juros. Esperamos que essas melhorias ajudem a impulsionar o
crescimento das pequenas empresas no futuro. Medidas em prol do ambiente de
negócios, que diminuam a burocracia e que proporcionem um acesso melhor ao
crédito são essenciais para a competitividade das pequenas empresas”, reforça
Paula Verlangeiro.
Otimismo
tem melhorado, mas ainda sinaliza cautela
Já o Índice de Perspectivas da Pequena
Indústria oscilou nos últimos dois anos em torno da média história
(46,9 pontos) e demonstrava cautela dos empresários na hora de investir e
contratar. Esse indicador sintetiza as expectativas de demanda por produtos, de
número de empregados e de intenção para investimento para os meses seguintes.
Agora, em janeiro de 2024, as expectativas começaram a subir novamente e o
índice atual marca 49,4 pontos.
Esse
aumento pode ser relacionado às medidas de apoio às pequenas empresas, como o
programa Novo Brasil Mais Produtivo, que iniciou as operações em
janeiro deste ano e pretende investir R$ 2 bilhões em 200 mil MPEs brasileiras;
e o Programa de Apoio à Competitividade das Micros e Pequenas
Indústrias (Procompi), que vai injetar R$24 milhões em soluções que reduzem
custos e aumentam a competitividade das pequenas indústrias até 2026.
Sobre o
Panorama da Pequena Indústria
O Panorama da Pequena Indústria
é uma pesquisa elaborada pela CNI, que apresenta e avalia quatro indicadores: Índice de Desempenho, Índice de Situação
Financeira, Índice de Perspectivas e o Índice de Confiança do Empresário
Industrial (ICEI) para a pequena empresa. Além disso, a pesquisa
traz o ranking dos
principais problemas enfrentados pelas MPEs em cada trimestre.
Todos os
índices variam de 0 a 100 pontos. No caso do ICEI, valores acima de 50 pontos
indicam confiança do empresário e quanto mais acima de 50 pontos, maior e mais
disseminada é a confiança. Valores abaixo de 50 pontos indicam falta de
confiança do empresário e quanto mais abaixo de 50 pontos, maior e mais
disseminada é a falta de confiança. Para os demais índices, quanto maior o
valor, melhor o resultado.
A
composição dos índices leva em consideração itens como volume de produção,
número de empregados, utilização da capacidade instalada, satisfação com o
lucro operacional e situação financeira, facilidade de acesso ao crédito,
expectativa de evolução da demanda e intenção de investimento e de
contratações.
A pesquisa é divulgada
trimestralmente e cada edição consulta cerca de 900 empresários de indústrias
de pequeno porte de todo país.
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