Nova elevação da Selic impõe fardo ainda mais pesado à economia, afirma CNI
CNI aponta caminhos para Brasil adotar hidrogênio sustentável como nova fronteira energética
País tinha
quatro projetos mapeados em 2021, entre 990 no mundo. Setores como químico,
fertilizantes, siderurgia e cerâmica têm potencial de se descarbonizar com nova
fonte energética
O
hidrogênio sustentável é uma das mais promissoras soluções para o futuro da
energia e representa uma grande oportunidade para a indústria brasileira se
descarbonizar, manter sua relevância frente à transição energética e ajudar o
país a cumprir as metas e compromissos pactuados nos acordos climáticos. O país
tem potencial para se inserir de forma competitiva nesse mercado, tanto pela
disponibilidade de recursos renováveis necessários para produção, como pelas
possibilidades de uso interno e exportação.
Segundo
dados da Agência Internacional de Energia (IEA, na sigla em inglês), desde 2000
foram identificados 990 projetos de hidrogênio no mundo, e 67 países com ao
menos uma iniciativa na área. Desse total, apenas quatro no Brasil. E, de
acordo com estimativa do Hydrogen
Council, somente os projetos de larga escala anunciados a partir de
2021 somam investimentos de cerca de US$ 500 bilhões até 2030. O mapeamento
está no estudo Hidrogênio
Sustentável: Perspectivas e Potencial para a Indústria Brasileira,
que será lançado no encontro Estratégias da Indústria para uma Economia de Baixo Carbono, em
16 e 17 em São Paulo (SP).
“Temos todas as condições para ser protagonista no processo de descarbonização da economia no mundo através de tecnologias limpas como o hidrogênio verde”, diz o presidente da Confederação Nacional da Indústria (CNI), Robson Braga de Andrade. “A consolidação do Brasil como produtor de hidrogênio tem o potencial de gerar empregos, atrair novas tecnologias e investimentos e desenvolver modelos de negócios, bem como inserir o país numa posição relevante na cadeia global de valor, o que pode alterar positivamente a balança comercial do país”, destaca.
A CNI
ressalva, contudo, que o desenvolvimento do hidrogênio sustentável no país
depende de medidas estruturantes, entre as quais a elaboração de uma política
industrial que impulsione a produção de equipamentos e a prestação de serviços,
com incentivos ao financiamento para descarbonizar setores e segmentos
potencialmente competitivos e que possam contribuir para o crescimento
econômico do país associado a menores níveis de emissão de gases de efeito
estufa. A infraestrutura de transporte e armazenamento do hidrogênio é outro
fator importante, pois envolve questões de segurança na manipulação que
requerem protocolos, normas e formação de recursos humanos, e representam um
desafio nesse processo produtivo.
“O foco é a
construção de marcos regulatórios que tragam segurança aos investimentos,
incentivo à pesquisa e ao desenvolvimento de tecnologias, adoção das melhores
práticas internacionais e promoção de estudos que dimensionem adequadamente o
potencial do segmento”, resume o presidente da CNI.
Oportunidades
para o hidrogênio sustentável no setor industrial
O estudo da
CNI identifica duas modalidades, ou rotas tecnológicas, como são chamadas as
diferentes tecnologias de produção do hidrogênio sustentável mais adequadas
para uso no setor industrial e para consolidação desse mercado. O hidrogênio
verde, que é produzido a partir de fontes renováveis, como energia solar e
eólica, sem emissão de gases de efeito estufa; e, o hidrogênio azul, obtido a
partir do gás natural e com emissões reduzidas por meio da tecnologia de
captura e armazenamento de carbono. O hidrogênio verde é uma alternativa
especialmente relevante para o Brasil, onde 95% do hidrogênio utilizado são
produzidos a partir de fontes fósseis (gás natural, por exemplo).
Para ajudar
o país a estruturar e consolidar esse mercado, a CNI está propondo a criação do
Observatório da Indústria para o Hidrogênio Sustentável, plataforma para
divulgação de informações e análises sobre tecnologias, projetos e políticas
públicas voltadas à indústria nacional. Além do monitoramento dos avanços da
cadeia do hidrogênio sustentável no Brasil, o Observatório pretende contribuir
para a avaliação da competitividade econômica e ambiental do hidrogênio
sustentável nacional e produtos industriais derivados de seu uso.
Segundo o
estudo, os setores industriais de refino e fertilizantes, grandes consumidores
de hidrogênio, têm potencial de uso imediato do hidrogênio sustentável como
estratégia de descarbonização. Já siderurgia, metalurgia, cerâmica, vidro e
cimento são os que apresentam o maior potencial para adoção do hidrogênio
sustentável no curto e médio prazo (3 a 5 anos).
* Amônia e fertilizantes verdes:
a produção de amônia a partir de hidrogênio verde em localidades perto do
agronegócio representa uma oportunidade de grande potencial. Já existe demanda
para amônia verde no mercado internacional e este é considerado um dos
combustíveis marítimos alternativos mais promissores para reduzir as emissões
de gases de efeito estufa na indústria naval.
*
Siderurgia: o hidrogênio verde pode substituir o coque (subproduto do carvão
mineral) que é adicionado ao minério de ferro e reage para produzir
ferro-esponja, com emissão de dióxido de carbono. Com o uso de hidrogênio
verde, a reação não libera dióxido de carbono – o único subproduto é a água – e
já existe demanda internacional para aço verde.
* Metanol
para as indústrias química e petroquímica: a grande
vantagem de converter hidrogênio de baixo carbono em metanol é que o processo
não exige o desenvolvimento de uma infraestrutura nova e extremamente cara e
não comprovada, nem sofre as grandes dificuldades de segurança, como com o uso
direto de hidrogênio.
Brasil tem
três hubs de hidrogênio em implementação
O setor de
energia e logística brasileiro estão à frente nos preparativos para aproveitar
as oportunidades de negócios envolvendo a oferta de hidrogênio. Alguns governos
estaduais, em parceria com complexos industriais e empresas de energia
começaram a desenvolver projetos de hubs
de hidrogênio verde – estratégia que busca contemplar modelos de negócio na
cadeia de valor do hidrogênio: da produção, armazenamento e uso à distribuição.
As iniciativas pioneiras são a do Porto do Pecém, no Ceará, de Suape, em
Pernambuco e a do Porto do Açu, no Rio de Janeiro.
Além da
oportunidade de descarbonizar a indústria brasileira, o hidrogênio verde tem
potencial para ser exportado, principalmente para a Europa. Entre os
países-alvo está a Alemanha, que tem feito parcerias com diversos países,
incluindo o Brasil, com o objetivo de comprar hidrogênio verde para uso final
e, em contrapartida, vender ou transferir tecnologia de produção alemã.
Recomendações
da CNI para consolidação do mercado de hidrogênio sustentável
*
Elaboração de metas e estratégias como desdobramento do Programa Nacional do
Hidrogênio.
*
Elaboração de estudos relacionados à demanda e à oferta (existente e
potencial).
*
Elaboração de uma política industrial para estruturação da cadeia de
fornecedores de hidrogênio no país, com seleção de setores e segmentos
potencialmente competitivos.
*
Implementação do mercado de crédito de carbono como pilar para incentivar a
descarbonização de segmentos da indústria.
*
Capacitação de pessoas para trabalhar na cadeia do hidrogênio.
*
Elaboração de um Programa Nacional de Pesquisa e Desenvolvimento em Hidrogênio
Sustentável.
*
Elaboração de uma política nacional para produção de fertilizantes
descarbonizados a partir do hidrogênio sustentável.
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