60 por cento das indústrias apontam carga tributária como fator de maior impacto na conta de luz, diz CNI
Estudo da CNI mostra que descarbonização do setor até 2050 custará cerca de R$ 40 bilhões
Documento também aponta que o Brasil pode atingir neutralidade climática em 2050 com adoção do mercado de carbono
A transição
do setor industrial brasileiro para uma economia de baixo carbono apresenta
desafios. O elevado custo de capital no país, combinado com o chamado “Custo
Brasil”, torna os investimentos em novas tecnologias e processos de produção
mais limpos especialmente elevados. Estudo da Confederação Nacional da Indústria (CNI) mostrou que, para
descarbonizar a indústria brasileira, serão necessários cerca de R$ 40 bilhões
até 2050.
O dado
consta do levantamento “Oportunidades e riscos da descarbonização da indústria
brasileira – roteiro para uma estratégia nacional”. O documento será divulgado
nesta segunda-feira (4), na Conferência do Clima da Organização das Nações
Unidas, a COP28, em Dubai, nos Emirados Árabes Unidos.
O custo de
cerca de R$40 bilhões foi obtido a partir da revisão de estudos feitos nos
últimos anos no Brasil e a partir de consultas a especialistas de cada segmento
industrial. A CNI, no entanto, ressalta que alguns setores não consideraram no
cálculo os valores de investimentos indiretos para aumentar a oferta de energia
renovável e alternativas, como portos, estradas e telecomunicações. Assim, o
valor de R$40 bilhões poderá ser ainda maior.
“Com as
condições adequadas, a indústria brasileira pode se tornar um ator
significativo na economia global de baixo carbono. Para tanto, são necessárias
condições econômicas e políticas claras e estáveis para que possamos atrair
investimentos e impulsionar inovação em tecnologias”, afirma o presidente da
CNI, Ricardo Alban.
Mercado de
carbono é chave para a neutralidade climática
O governo
federal anunciou, em setembro deste ano, a revisão da meta climática
brasileira. O país se comprometeu a reduzir as emissões de gases de efeito
estufa (GEE) em 48% até 2025 e em 53% até 2030, retomando a ambição apresentada
em 2015, no Acordo de Paris.
Segundo o
levantamento da CNI, a maior parte dos setores estudados tem potencial de
mitigação de emissões de GEE nos médio e longo prazos, com destaque para
cimento, siderurgia, alumínio e florestas plantadas. Por exemplo, os setores de
cimento e siderúrgico, maiores consumidores de energia nos processos
produtivos, podem reduzir 499 milhões de toneladas de CO² até 2050.
A CNI
simulou três cenários para saber se o Brasil consegue atingir as metas
acordadas e entender se a precificação do carbono poderá ter algum impacto nos
nesses compromissos:
Cenário
referência: em que as metas assumidas, hoje, pelo país são mantidas, sem a
implementação de uma política de precificação de carbono. Essa situação
considera o mecanismo de ajuste de fronteira de carbono europeu (CBAM, em
inglês) – imposto criado pela União Europeia para precificar as emissões dos
produtos importados pelos países membros.
Cenário 1: em que o
Brasil adota uma política de precificação de carbono por meio de uma taxa de
carbono. As receitas obtidas pelo pagamento da taxa pelos agentes econômicos
vão para o orçamento da União. Essa situação também inclui o CBAM
europeu.
Cenário 2: em que há
o mercado de carbono e é feita a reciclagem de receitas, que é quando se usa
uma receita para pagar uma despesa. O CBAM europeu é levado em
consideração.
Confira os
resultados para cada cenário:
Cenário
referência: as emissões chegam a 1,2Gt CO², atendendo à meta da NDC
brasileira. Sem aumento de ambição, entre 2030 e 2050, as emissões permanecem
no mesmo patamar e o país não alcança a neutralidade climática;
Cenário 1: as
emissões chegariam a 1,0Gt CO² em 2030 e seriam neutras em 2050 (emissões
líquidas zero). No entanto, seria necessário aumentar a taxa de carbono como
forma de incentivar a adoção de mais medidas de mitigação pelos setores taxados
e, dessa forma, alcançar as metas prometidas pelo Brasil à Convenção-Quadro das
Nações Unidas sobre a Mudança do Clima (UNFCC)
Cenário 2: além de
atingir a NDC em 2025 e 2030, e a neutralidade climática em 2050 (como no
cenário 1), há a projeção de crescimento do PIB em relação ao cenário
referência, chegando a R$ 9,66 trilhões em 2030 (+1%) e R$ 14,13 trilhões em
2050 (+1,8%).
A projeção
demonstra que por meio do mercado de carbono é possível chegar à neutralidade
climática em 2050 e ainda aumentar o nível de atividade econômica do país,
reduzindo a taxa de desemprego.
“Uma
política de precificação de carbono adequada ao país, que use as receitas para
reduzir distorções da economia brasileira e incentive a criação de empregos
parece estar entre as melhores alternativas para o Brasil cumprir o Acordo de
Paris, sem prejuízo ao crescimento econômico e social”, explica o diretor de
Relações Institucionais, Roberto Muniz.
>> Confira a
cobertura especial da indústria na COP28.
O que os
setores podem fazer para se descarbonizar
Para além
dos instrumentos de precificação, melhorias de eficiência energética e
processos de produção com tecnologias mais avançadas contribuem para a
descarbonização e alavancam a economia.
No estudo,
a CNI também listou opções tecnológicas de controle e eficiência para cinco
setores. Veja algumas:
Alumínio
Controle de
motores e inversores de frequência
Caldeira a
gás natural
Otimização
do fluxo de ar da combustão
Isolamento
em fornos
Recuperação
de calor
Cimento
Queima
melhorada usando mineralizadores
Otimização
de controle e processos de recuperação de calor
Geração de
eletricidade a partir da recuperação de calor
Substituição
de moinhos de bola por FPGR ou moinhos horizontais
Ciclones de
baixa queda de pressão nos pré-aquecedores
Ferro-gussa
e aço
Sistema de
controle avançado
Drives dos
ventiladores
Recuperação
de calor das fornalhas
Injeção de
carvão pulverizado
Controle da
umidade do carvão
Indústria
química
Adoção de
biomassa em fornos e caldeiras
Recuperação
de calor em caldeiras
Pré-reformador
na produção de amônia e metanol
Adoção de
gás natural em caldeiras
Eletrocatálise
Papel e
celulose
Caldeira
auxiliar com controle de processo, recuperação de vapor e retorno de condensado
Modificações
no forno de cal
Caldeira de
papel com controle de processo, recuperação de vapor e retorno de condensado
Secadores
condbelt
Prensas mais eficientes
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