IMPRENSA
15 de August de 2022 - 09h54

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CNI aponta caminhos para Brasil adotar hidrogênio sustentável como nova fronteira energética

País tinha quatro projetos mapeados em 2021, entre 990 no mundo. Setores como químico, fertilizantes, siderurgia e cerâmica têm potencial de se descarbonizar com nova fonte energética

 

O hidrogênio sustentável é uma das mais promissoras soluções para o futuro da energia e representa uma grande oportunidade para a indústria brasileira se descarbonizar, manter sua relevância frente à transição energética e ajudar o país a cumprir as metas e compromissos pactuados nos acordos climáticos. O país tem potencial para se inserir de forma competitiva nesse mercado, tanto pela disponibilidade de recursos renováveis necessários para produção, como pelas possibilidades de uso interno e exportação.

 

Segundo dados da Agência Internacional de Energia (IEA, na sigla em inglês), desde 2000 foram identificados 990 projetos de hidrogênio no mundo, e 67 países com ao menos uma iniciativa na área. Desse total, apenas quatro no Brasil. E, de acordo com estimativa do Hydrogen Council, somente os projetos de larga escala anunciados a partir de 2021 somam investimentos de cerca de US$ 500 bilhões até 2030. O mapeamento está no estudo Hidrogênio Sustentável: Perspectivas e Potencial para a Indústria Brasileira, que será lançado no encontro Estratégias da Indústria para uma Economia de Baixo Carbono, em 16 e 17 em São Paulo (SP).

 

“Temos todas as condições para ser protagonista no processo de descarbonização da economia no mundo através de tecnologias limpas como o hidrogênio verde”, diz o presidente da Confederação Nacional da Indústria (CNI), Robson Braga de Andrade. “A consolidação do Brasil como produtor de hidrogênio tem o potencial de gerar empregos, atrair novas tecnologias e investimentos e desenvolver modelos de negócios, bem como inserir o país numa posição relevante na cadeia global de valor, o que pode alterar positivamente a balança comercial do país”, destaca. 

A CNI ressalva, contudo, que o desenvolvimento do hidrogênio sustentável no país depende de medidas estruturantes, entre as quais a elaboração de uma política industrial que impulsione a produção de equipamentos e a prestação de serviços, com incentivos ao financiamento para descarbonizar setores e segmentos potencialmente competitivos e que possam contribuir para o crescimento econômico do país associado a menores níveis de emissão de gases de efeito estufa. A infraestrutura de transporte e armazenamento do hidrogênio é outro fator importante, pois envolve questões de segurança na manipulação que requerem protocolos, normas e formação de recursos humanos, e representam um desafio nesse processo produtivo.

 

“O foco é a construção de marcos regulatórios que tragam segurança aos investimentos, incentivo à pesquisa e ao desenvolvimento de tecnologias, adoção das melhores práticas internacionais e promoção de estudos que dimensionem adequadamente o potencial do segmento”, resume o presidente da CNI.

 

Oportunidades para o hidrogênio sustentável no setor industrial

 

O estudo da CNI identifica duas modalidades, ou rotas tecnológicas, como são chamadas as diferentes tecnologias de produção do hidrogênio sustentável mais adequadas para uso no setor industrial e para consolidação desse mercado. O hidrogênio verde, que é produzido a partir de fontes renováveis, como energia solar e eólica, sem emissão de gases de efeito estufa; e, o hidrogênio azul, obtido a partir do gás natural e com emissões reduzidas por meio da tecnologia de captura e armazenamento de carbono. O hidrogênio verde é uma alternativa especialmente relevante para o Brasil, onde 95% do hidrogênio utilizado são produzidos a partir de fontes fósseis (gás natural, por exemplo).

 

Para ajudar o país a estruturar e consolidar esse mercado, a CNI está propondo a criação do Observatório da Indústria para o Hidrogênio Sustentável, plataforma para divulgação de informações e análises sobre tecnologias, projetos e políticas públicas voltadas à indústria nacional. Além do monitoramento dos avanços da cadeia do hidrogênio sustentável no Brasil, o Observatório pretende contribuir para a avaliação da competitividade econômica e ambiental do hidrogênio sustentável nacional e produtos industriais derivados de seu uso.

 

Segundo o estudo, os setores industriais de refino e fertilizantes, grandes consumidores de hidrogênio, têm potencial de uso imediato do hidrogênio sustentável como estratégia de descarbonização. Já siderurgia, metalurgia, cerâmica, vidro e cimento são os que apresentam o maior potencial para adoção do hidrogênio sustentável no curto e médio prazo (3 a 5 anos).

 

* Amônia e fertilizantes verdes: a produção de amônia a partir de hidrogênio verde em localidades perto do agronegócio representa uma oportunidade de grande potencial. Já existe demanda para amônia verde no mercado internacional e este é considerado um dos combustíveis marítimos alternativos mais promissores para reduzir as emissões de gases de efeito estufa na indústria naval.

 

* Siderurgia: o hidrogênio verde pode substituir o coque (subproduto do carvão mineral) que é adicionado ao minério de ferro e reage para produzir ferro-esponja, com emissão de dióxido de carbono. Com o uso de hidrogênio verde, a reação não libera dióxido de carbono – o único subproduto é a água – e já existe demanda internacional para aço verde.

 

* Metanol para as indústrias química e petroquímica: a grande vantagem de converter hidrogênio de baixo carbono em metanol é que o processo não exige o desenvolvimento de uma infraestrutura nova e extremamente cara e não comprovada, nem sofre as grandes dificuldades de segurança, como com o uso direto de hidrogênio.

 

Brasil tem três hubs de hidrogênio em implementação

 

O setor de energia e logística brasileiro estão à frente nos preparativos para aproveitar as oportunidades de negócios envolvendo a oferta de hidrogênio. Alguns governos estaduais, em parceria com complexos industriais e empresas de energia começaram a desenvolver projetos de hubs de hidrogênio verde – estratégia que busca contemplar modelos de negócio na cadeia de valor do hidrogênio: da produção, armazenamento e uso à distribuição. As iniciativas pioneiras são a do Porto do Pecém, no Ceará, de Suape, em Pernambuco e a do Porto do Açu, no Rio de Janeiro.

 

Além da oportunidade de descarbonizar a indústria brasileira, o hidrogênio verde tem potencial para ser exportado, principalmente para a Europa. Entre os países-alvo está a Alemanha, que tem feito parcerias com diversos países, incluindo o Brasil, com o objetivo de comprar hidrogênio verde para uso final e, em contrapartida, vender ou transferir tecnologia de produção alemã.

 

Recomendações da CNI para consolidação do mercado de hidrogênio sustentável

 

* Elaboração de metas e estratégias como desdobramento do Programa Nacional do Hidrogênio.

* Elaboração de estudos relacionados à demanda e à oferta (existente e potencial).

* Elaboração de uma política industrial para estruturação da cadeia de fornecedores de hidrogênio no país, com seleção de setores e segmentos potencialmente competitivos.

* Implementação do mercado de crédito de carbono como pilar para incentivar a descarbonização de segmentos da indústria.

* Capacitação de pessoas para trabalhar na cadeia do hidrogênio.

* Elaboração de um Programa Nacional de Pesquisa e Desenvolvimento em Hidrogênio Sustentável.

* Elaboração de uma política nacional para produção de fertilizantes descarbonizados a partir do hidrogênio sustentável.

* Organização do mercado interno, por meio de incentivos para substituição de hidrogênio cinza por hidrogênio sustentável nos segmentos de refino, amônia e fertilizantes; estudos sobre o potencial para descarbonização de segmentos energointensivos (siderurgia, cimento, cerâmica, vidro e setor químico); e avaliação da competividade econômica e ambiental.


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