Presidente da FIERO participa da COP29 e defende o protagonismo da indústria Amazônica
COP-28: CNI apresenta propostas para negociações na Conferência do Clima
Documento
reúne recomendações para desenvolvimento da agenda do clima, como financiamento
climático, estratégia para implementação da NDC e regulamentação do mercado
global de carbono
Definir a
estratégia de descarbonização da economia, avançar na implementação do mercado
global de carbono e mobilizar os países para o financiamento climático. Essas
são algumas das ações defendidas pela Confederação Nacional da Indústria (CNI) para as
negociações brasileiras na Conferência das Partes sobre Mudanças Climáticas
(COP28), que ocorre de 30 de novembro a 12 de dezembro, em Dubai, nos Emirados
Árabes Unidos.
As
propostas se encontram no documento Visão
da Indústria para a COP28, que reúne as principais medidas
consideradas necessárias pelo setor industrial para o desenvolvimento da agenda
climática e as ações mais relevantes para o país nas negociações. As
recomendações priorizam três temas:
1.
Avaliação Global Stocktake (GST) - transparência das NDCs
A CNI
defende a definição da estratégia de implementação da Contribuição
Nacionalmente Determinadas (NDC) brasileira. Mas o que isso significa? Vamos
por partes:
- o
Acordo de Paris – compromisso mundial sobre as alterações climáticas e que
prevê metas para a redução da emissão de gases do efeito estufa (GEE) –
foi o ponto de partida para a criação das NDCs;
- funciona
da seguinte maneira: os países participantes devem apresentar, de maneira
voluntária, o que são capazes de fazer para limitar o aquecimento global a
1,5 ºC por meio do plano de redução de emissões de carbono. Ou seja, a NDC
representa o compromisso de descarbonização da economia assumido por cada
país;
- na
COP-28, haverá a divulgação do primeiro Balanço Global (Global Stocktake –
GST). Esse é um mecanismo de transparência do Acordo de Paris, previsto no
artigo 14, e tem o objetivo de avaliar e divulgar o progresso coletivo nas
metas de longo prazo do acordo entre os países-membros;
- a
NDC do Brasil prevê a redução de 37% das emissões até 2025 e 50% até 2050,
em relação aos índices de 2005;
- apesar
disso, a NDC não apresenta detalhes nem medidas para indicar como a
meta será implementada e quais setores ou segmentos seriam prioritários, o
que hoje a torna imprecisa;
- e
é esperado que o Balanço Global (GST) se torne um parâmetro de tomada de
decisões e investimentos, tornando-se um norte para as ações dos
países no cumprimento de suas NDCs.
A CNI,
portanto, entende que é essencial que o governo comunique, com transparência e
estratégia, as medidas setoriais e as políticas a serem tomadas para
implementar a meta prevista na NDC.
Como o GST
vai considerar, para a sua análise, três áreas temáticas – mitigação, adaptação
e meios de implementação –, a definição de uma estratégia de implementação da
NDC é fundamental para viabilizar essa avaliação e garantir que esse
monitoramento seja transparente.
2. Mercado
de carbono
Embora as
duas últimas COPs (COP26 e COP27) tenham chegado a um consenso sobre algumas
regras do artigo 6 do Acordo de Paris, que trata sobre o mercado de carbono, há
alguns pontos ainda em discussão que vão demandar atenção na COP28.
Um deles é
o artigo 6.2, que permite que os países troquem entre si os chamados Resultados
de Mitigação Internacionalmente Transferidos (ITMOs, na sigla em inglês). Isso
significa que resultados da redução de emissões de GEE de um país podem ser
transferidos para outro, que poderá contabilizar esses resultados em sua meta
nacional.
Neste ano,
estará em discussão a necessidade de vincular os registros nacionais ao
registro internacional, permitindo um sistema global de acompanhamento dos
ITMOs. Nesse sentindo, a CNI defende que o Brasil tenha "especial atenção no
contexto de criação de um mercado de carbono nacional".
Outro ponto
é o artigo 6.4, que permitirá ao setor privado investir em projetos de redução
de GEE e criação de créditos, que poderão ser comercializados no futuro mercado
de carbono global ou abater metas de redução de emissões estabelecidas por meio
das NDCs.
Há
preocupação para que a realidade brasileira das atividades envolvendo remoção
de GEE seja levada em consideração e não iniba a possibilidade de
desenvolvimento de projetos nesse novo mecanismo de mercado.
Além disso,
a indústria defende a transição justa e com segurança dos projetos e
metodologias que vigoravam no Mecanismo de Desenvolvimento Limpo (MDL),
instrumento vigente desde o Protocolo de Quioto, de 1997, e que será substituído
pelo novo mecanismo, o MDS – Mecanismo de Desenvolvimento Sustentável.
Mas o que
significam essas siglas?
O MDL
consistia no desenvolvimento de projetos que reduzissem a emissão de gases de
efeito estufa. Os projetos no âmbito do MDL eram implementados em países menos
desenvolvidos e em desenvolvimento, que poderiam vender as reduções de GEE,
denominadas Reduções Certificadas de Emissão (RCEs) para os países
desenvolvidos, ajudando no cumprimento de suas metas e
compromissos.
O MDS vem
para dar continuidade à experiência do MDL, que resultou, segundo dados do
Ipea, investimentos da ordem de US$ 32 bilhões nos últimos 15 anos na economia
brasileira, deixando de lançar 124 milhões de toneladas de emissões de GEEs na
atmosfera, sendo quase 50% evitadas por projetos desenvolvidos pela
indústria.
De acordo
com estudo realizado pela CNI, sob determinadas condições econômicas, o MDS tem
potencial para aumentar o Produto Interno Bruto (PIB) brasileiro em cerca de
R$30 bilhões e fomentar a criação de 70 mil postos de trabalho até
2030.
3.
Financiamento e adaptação à mudança do clima
Durante a
COP28, há uma expectativa de que os países desenvolvidos apresentem propostas
concretas para o cumprimento do compromisso de fornecer US$ 100 bilhões por ano
para as nações em desenvolvimento. Ainda não se sabe se eles compensarão, de
alguma forma, os valores não repassados dos anos anteriores.
Uma nova
meta de financiamento também deve ser discutida, inclusive com os detalhes para
garantir a sua consolidação, como cronograma, tipos de financiamento,
instrumentos e fontes de acesso. Nesse caso, o Brasil deve ter maior
engajamento para participar dos debates e contribuir com a consolidação da nova
meta, considerando a realidade do país e as principais necessidades de
financiamento.
Já na
agenda de adaptação, a CNI recomenda que seja tratada com equidade com a agenda
de mitigação, considerando que o Brasil também tem grandes
vulnerabilidades climáticas. Durante a COP27, foi criado um programa de
trabalho para tratar sobre o Objetivo Global de Adaptação, mas ficou decidido
que ele se estenderia por mais um ano, com a sua conclusão prevista para a
COP28.
Em âmbito nacional, a
Confederação defende o desenvolvimento da Estratégia Nacional de Adaptação para
subsidiar esse processo e definir as melhores estratégias de enfrentamento para
o país, além das necessidades de financiamento climático.
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