Alta dos juros e desvalorização do real derrubam Índice de Confiança do Empresário Industrial de dezembro, mostra CNI
Aumentar Selic é insistir no erro, avalia CNI
Para
a instituição, um novo aumento da taxa de juros demonstra que o Banco Central
ignora cenários nacional e internacional e traz efeitos indesejados para a
economia
A Confederação Nacional da Indústria (CNI) avalia que um eventual novo aumento da taxa Selic seria uma demonstração de que o Banco Central ignora elementos importantes dos cenários econômicos nacional e internacional. Para a instituição, tornar a política monetária ainda mais contracionista é um erro, em um momento em que a política fiscal reduz de forma significativa o impulso fiscal sobre a atividade econômica.
Além da mudança na política
fiscal, a CNI destaca que há outros elementos que não podem ser ignorados, como
a desaceleração já em curso da economia brasileira e a tendência de redução de
juros nas principais economias globais.
“O momento é totalmente
inoportuno para o Banco Central subir a Selic. Seria uma medida excessiva em
termos de controle da inflação e apenas traria restrições adicionais ao
crescimento do país. A CNI avalia que a prioridade deve ser a implementação de
uma agenda que viabilize a retomada dos cortes na taxa de juros. Sem esse
esforço, atrativos do nosso mercado podem ser anulados, frustrando muitos
projetos de investimentos, que ficarão apenas no papel”, avalia o presidente da
CNI, Ricardo Alban.
Pacote de redução de despesas federais
vai na direção correta
As medidas propostas pelo
Governo Federal representam potencial de redução nas despesas primárias da
ordem de R$ 30,5 bilhões em 2025, e de R$ 41,2 bilhões em 2026. Além de
contribuir para a sustentabilidade do novo arcabouço fiscal, as medidas
melhoraram a sintonia entre as políticas fiscal e monetária. Também é positivo
o fato de o pacote conter medidas que são de caráter estrutural, como a revisão
da regra de reajuste do salário-mínimo, da regra que determina o valor do abono
salarial e da regra que define a contabilização da renda para fins de
recebimento do Benefício de Prestação Continuada (BPC).
Em relação à inflação, as
medidas impõem freio adicional no impulso fiscal sobre a atividade econômica,
que já vinha perdendo fôlego. As despesas federais devem registrar queda de
1,8% na comparação do segundo semestre de 2024 com o segundo semestre de 2023
(desconsiderando o pagamento adicional de precatórios em 2023). Isso após
crescimento de 10,5% no primeiro semestre de 2024, na comparação com o mesmo
período de 2023. Para 2025, esse movimento deve se manter. A CNI prevê que as
despesas terão crescimento real de 2,1%, ritmo menor que o previsto para 2024,
de 4,1% (também desconsiderando o pagamento adicional de precatórios em 2023).
Vale pontuar que o limite
inferior da meta de resultado primário de 2024, equivalente a déficit de R$ 28
bilhões (-0,25% do PIB), deve ser cumprido. Na estimativa da CNI, o resultado
primário deste ano será de déficit de R$ 21,7 bilhões (-0,19% do PIB). Para
2025, a CNI avalia que o cumprimento da meta é viável, pois projeta que o
resultado primário considerado para fins de cumprimento da meta é de déficit de
R$ 42,8 bilhões (0,4% do PIB), R$ 12 bilhões acima da banda inferior da meta,
valor que pode ser contingenciado pelo governo.
Com base nesses dados, a CNI
avalia que a reação inicial ao pacote, com desvalorização da taxa de câmbio e
alta nos juros futuros, é exagerada e se deve ao anúncio da isenção de imposto
de renda de que têm rendimento mensal de até R$ 5 mil. Porém, como a reforma da
renda a ser enviada ao Congresso será neutra do ponto de vista fiscal, a reação
será revertida. Ainda, não se deve tomar decisões de política monetária com base
em seus efeitos temporários.
Além disso, elevar a taxa de
juros é jogar contra o esforço fiscal em curso, uma vez que aumenta o custo da
dívida pública, já que a Selic indexa parte considerável dos títulos públicos.
Cada ponto percentual a mais na Selic representa R$ 50,3 bilhões a mais na
dívida bruta, segundo estimativas do próprio Banco Central.
Desaceleração da economia
brasileira também deve ser levada em conta pelo Banco Central
Os resultados do PIB do
terceiro trimestre, apesar de positivos, sinalizam desaceleração da economia
brasileira. O PIB total cresceu 0,9% frente ao segundo trimestre, ritmo
inferior ao que havia sido registrado no trimestre anterior (de 1,4%). O mesmo
pode ser observado no PIB da Indústria, que avançou 0,6% no terceiro trimestre,
após crescer 1,6% no segundo, de acordo com o IBGE.
O mercado de trabalho também
dá indícios de desaceleração. Segundo dados do CAGED/MTE, a criação de novos
postos de emprego formal começou a perder força a partir de agosto, na
comparação de cada mês de 2024 com o mesmo mês de 2023. Até que, em outubro, a
criação de novos postos registrou queda de 29,1% em relação ao mesmo mês do ano
passado.
O mercado de crédito também já
dá sinais de possível desaceleração. Dados do Banco Central mostram que as
concessões tiveram crescimento real de 1,3% no trimestre móvel encerrado em
outubro, frente ao trimestre móvel anterior, alta inferior à que havia sido
registrada no trimestre móvel encerrado em setembro, de 2,7%. Parte dessa
desaceleração pode ser explicada pelo comportamento da taxa de juros média das
contratações de crédito por empresas e consumidores, que vinha em trajetória de
redução e voltou a subir em outubro.
Justamente por conta da
desaceleração nos mercados de trabalho e de crédito, bem como do menor impulso
fiscal, o crescimento da economia deve ser menor em 2025. Segundo o Boletim
Focus, do Banco Central, o PIB brasileiro deve crescer 2,0% em 2025, bem abaixo
da estimativa de 3,4% para 2024. A perda considerável de ritmo da economia
facilita o controle da inflação e, com isso, constitui mais um argumento para
dispensar o aumento da Selic.
Cenário internacional: redução
de juros favorece política monetária do Brasil
No cenário internacional,
segue a tendência de afrouxamento dos juros. O Banco Central Europeu (BCE) deve
reduzir a taxa de juros pela quarta vez este ano, na reunião de dezembro. Nos
EUA, a expectativa é que o FED (Banco Central dos EUA) promova, na próxima
semana, o terceiro corte consecutivo de 0,25 p.p.
Esse movimento é benéfico para
o Brasil e deveria ser mais bem aproveitado. Afinal, possibilita até a redução
da Selic sem diminuir o diferencial de juros em relação às economias centrais,
o que evitaria pressão sobre a taxa de câmbio e a inflação. Isso deixa claro
que uma eventual alta na Selic colocaria o Brasil na contramão da tendência
mundial e ampliaria ainda mais o diferencial de juros.
Alimentos e energia
contribuirão para a desaceleração da inflação em 2025
As condições climáticas mais
favoráveis em 2025 devem contribuir para a desaceleração expressiva dos preços
de alimentos e energia, desfazendo duas fontes de pressão da inflação corrente.
No caso dos alimentos, o clima mais favorável deve impulsionar a produtividade
agrícola, com expectativa de aumento da safra e, consequentemente, maior oferta
de alimentos. No caso da energia elétrica, a regularização das chuvas é o
principal fator que irá retirar a pressão sobre a tarifa de energia.
Além disso, os preços
internacionais de algumas commodities energéticas, com destaque para o
petróleo, que vinham sinalizando estabilidade, começam a indicar possível
redução para o final do próximo ano, também contribuindo com o arrefecimento da
inflação em 2025.
Atenção com a intensidade do
aperto monetário e com efeitos defasados
Também é oportuno salientar
que a política monetária brasileira se encontra em campo contracionista desde
fevereiro de 2022, ou seja, há 35 meses. Para piorar, a intensidade do aperto
monetário tem aumentado.
Na véspera da reunião do
Copom, em que se decidiu pela retomada do aumento da Selic, em setembro, a taxa
de juros real era de 6,1% a.a.; 1,4 p.p. acima da taxa de juros neutra estimada
pelo Banco Central, de 4,75%. Agora, com a Selic em 11,25% a.a., e a
expectativa de inflação para os próximos 12 meses em 4,67%, a taxa de juros
real subiu para 6,3% a.a., ficando 1,6 p.p. acima da taxa de juros neutra.
Com isso, o Brasil amarga a
terceira colocação no ranking mundial das maiores taxas de juros real, lado a
lado com o México, e atrás apenas da Rússia e da Turquia.
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