SENAI de Ariquemes leva alunos de Técnico de Edificações para visita técnica em uma construção
Amazônia: atividades de baixo carbono aliam desenvolvimento à conservação florestal
Debate
promovido pelo Instituto Amazônia+21 e pela CNI abordou potencial de
descarbonização da economia para a região
Buscar caminhos efetivos para a descarbonização da produção industrial e dos demais setores na Amazônia Legal e possibilitar o desenvolvimento de negócios sustentáveis na região. Esse foi o objetivo do debate promovido pelo Instituto Amazônia+21 e pela Confederação Nacional da Indústria (CNI) nesta quarta-feira (28). A primeira edição da Jornada de Negócios e Sustentabilidade discutiu meios, projetos e ações para a região Amazônica se beneficiar da corrida global pela descarbonização, apresentando o potencial de negócios e as oportunidades de melhoria de vida para as comunidades tradicionais.
Na abertura do evento,
transmitido online pelo canal da CNI no Youtube, o diretor do Instituto
Amazônia+21 e presidente da Federação da Indústria do Estado de Rondônia
(FIERO), Marcelo Thomé, destacou que as oportunidades para descarbonização na
região são diversas e não se restringem somente à venda de crédito de carbono.
“Trata-se de pensar uma nova
indústria, mais adequada à região e que seja menos emissora de gases de efeito
estufa no seu processo produtivo. Temos diversos exemplos, no Brasil, de
setores que avançaram fortemente na redução de emissões, como o sucroalcooleiro
de segunda geração, que hoje tem saldo positivo na sua cadeia. Em Rondônia, a
empresa Energisa, que é parceira do Instituto Amazônia+21, por meio de
investimentos em rede de distribuição na ordem de R$ 1 bilhão, permitiu o
desligamento de diversas térmicas e com isso evitou a emissão de cerca de 300
mil toneladas de gases de efeito estufa. São exemplos que evidenciam diversas
oportunidades que temos na região Amazônica”, disse.
Thomé destacou ainda o
potencial de geração de créditos de carbono na região. Segundo o diretor,
somente do ponto de vista florestal, a Amazônia representa 17% do estoque de
carbono do planeta. “Isso pode e será disruptivo do ponto de vista econômico,
de geração de prosperidade, riqueza, bons empregos e dignidade para os 29
milhões de brasileiros que vivem nessa região”.
O secretário nacional da
Amazônia e Serviços Ambientais do Ministério do Meio Ambiente, Marcelo Freire,
destacou que, além do mercado de carbono, é preciso olhar para o potencial da
região no aspecto das atividades produtivas de baixa emissão de carbono. Ele
também reforçou que a região tem potencial para ser uma referência
internacional de um grande centro global de produção de baixa intensidade de
carbono e a questão do financiamento está cada vez mais ligada às questões
ambientais.
“A questão do carbono está
cada vez mais presente na tomada de decisão da alocação de recursos mundo
afora. Para uma multinacional, quanto mais operações tiver em lugares de baixa
intensidade de carbono, mais está diluindo a pegada [de carbono] das
operações”, destacou. “Sob o olhar da indústria isso é extremamente importante.
Este é o grande diferencial vocacional e competitivo da indústria nacional”,
disse.
Experiências sustentáveis em desenvolvimento na região
A Fundação Jari e o Grupo
Ultra são exemplos de empresas que já desenvolvem iniciativas sustentáveis na
região. Representantes das duas instituições, que são associadas do Instituto
Amazônia+21, participaram do encontro e compartilharam as experiências.
A Fundação Jari desenvolve no
município de Almeirim, no Pará, um projeto REDD+ para manejo florestal e
conservação da biodiversidade numa área de 500 mil hectares, garantindo
proteção ambiental e investimentos para a comunidade. Baseadas em um modelo de
desenvolvimento econômico que valoriza a floresta, as atividades do projeto são
viáveis porque combinam o manejo florestal de baixo impacto com a
comercialização dos créditos de carbono.
O coordenador de Operações
Sociais da instituição, Jorge Rafael Almeida, destacou que entre os principais
desafios para o desenvolvimento da região estão o ordenamento territorial, a
disponibilização de assistência técnica e o investimento em soluções
energéticas. “Não dá para falar de bioeconomia e de descarbonização sem uma
política séria de fiscalização ambiental. Qualquer iniciativa de ESG na
Amazônia prescinde do bem-estar das pessoas que nelas vivem, das pessoas que
tiram da floresta o seu sustento. O recado, então, para as indústrias que
querem investir na Amazônia é pensar em soluções integradas com políticas
públicas, de crédito, extensão rural e transferência de tecnologia”, afirmou.
A gerente executiva de
Sustentabilidade e Impacto Social do Grupo Ultra, Ligia Camargo, destacou a
importância de olhar para a implementação de uma iniciativa ou estratégia de
sustentabilidade de uma maneira transversal e consolidada e de aprimorar a
mensuração dos impactos para a Amazônia. “Alavancar esse olhar de oportunidades
com a floresta faz com que a gente mude também a relação das empresas com a
floresta. A gente tem que deixar de olhar porque a Amazônia é importante e
começar a olhar o que é importante para a Amazônia”, destacou.
Lígia explicou que o grupo tem
atuado na descarbonização das atividades por meio de inovação e tecnologia,
novos modelos de negócios e parcerias. “A Ipiranga, por exemplo, já é neutra em
carbono desde 2014 e está investindo em iniciativas de mobilidade e eficiência
energética buscando usar menos produtos carbono intensivos”.
Financiamento para ações climáticas é um dos principais desafios
O gerente de Meio Ambiente e
Sustentabilidade da CNI, Davi Bomtempo, destacou que o financiamento é uma das
principais barreiras quando se fala em sustentabilidade, tanto no Brasil como
no ambiente internacional, e atinge especialmente micro e pequenas empresas. O
tema deve ser uma das discussões centrais da COP27 – Conferência das Nações
Unidas sobre Mudanças Climáticas - que acontecerá em novembro, no Egito.
“A CNI vem mapeando o fluxo de
capital internacional dedicado a ações para as mudanças climáticas e ESG, e a
gente começa a perceber grandes barreiras, principalmente quando olhamos para
micro e pequenas empresas. São esses os mais afetados, geralmente em função do
desconhecimento dessas fontes de recursos e dificuldades em como acessá-los”.
Segundo Bomtempo, as garantias coletivas podem ser uma solução para resolver
para ajudar esse tipo de empreendimento.
O superintendente da Área de
Gestão Pública e Socioambiental do Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico
e Social (BNDES), Julio Costa Leite, explicou que uma das dificuldades
relacionadas a crédito na Amazônia é a falta de garantia. Para suprir essa
lacuna, a instituição deverá lançar um fundo garantidor para micro e pequenas
empresas na região. Também informou que o banco disponibilizou este ano um
instrumento novo, chamado blended finance, que envolve disponibilização de
recursos privados para financiar questões socioambientais. O BNDES recebeu mais
de 50 propostas, que demandariam investimento de R$ 5 bilhões, e estão em fase
de avaliação.
E, para fomentar o mercado
voluntário de carbono, o banco lançou uma chamada, no valor de R$ 100 milhões,
para projetos dedicados à venda de créditos. “Há muitos desafios e gargalos,
mas há também oportunidades são grandes. Amazônia está no centro do debate da
questão climática e o mercado de carbono representa grande potencial a ser
explorado”, afirmou.
Empresas mais engajadas no
tema sustentabilidade
As empresas brasileiras estão
se engajando cada vez mais no tema da sustentabilidade. Segundo Rebeca Lima,
diretora executiva do CDP Latin America, 48 grandes empresas do Brasil – de um
total de 200 na América Latina - utilizam a plataforma da organização para mensurar
seus impactos e divulgar suas práticas ambientais. A maior parte são de setores
de manufatura, alimentos, agricultura e bebidas.
Ela destacou que, quando se
medem os riscos e oportunidades relacionados à adequada gestão dos recursos
naturais, há muito mais ganhos do que perdas. Os riscos reportados ao CDP pelas
empresas que estão engajadas à organização somam US$ 758 milhões, já as
oportunidades chegam a US$ 1,4 bilhão - possível ganho financeiro com a
materialização das oportunidades florestais em relação ao potencial de impacto
financeiro ou estratégico nos negócios.
Rebeca destacou ainda a
importância dos sistemas de rastreabilidade das commodities de risco florestal
para fortalecer as cadeias produtivas e, ao mesmo tempo, atrair investimentos tanto
do setor empresarial quanto de investidores. Segundo ela, 80% das empresas que
reportam ao CDP têm mecanismos já estabelecidos, mas ainda há muito espaço para
melhoria do ponto de vista de ambição. “Apenas 30% desses sistemas atingem
critérios de liderança, ou seja, envolvem cobertura da cadeia, trabalhando com
todos os fornecedores até a ponta, envolve ecossistemas inclusivos”, explicou.
O CPD também identificou como
tendência o aumento da participação do setor financeiro na discussão sobre
proteção das florestas, embora abaixo de discussões sobre mudanças climáticas,
o que revela um descasamento entre as duas políticas. Cerca de 50% das
instituições financeiras engajam seus clientes em temas florestais, enquanto
88% engajam em temas relacionas a mudanças climáticas e somente 37,5% oferecem
produtos que evitam o impacto nas florestas, enquanto 94% oferecem produtos que
evitam o impacto climático. Nesse sentido, há muitas oportunidades a serem
exploradas.
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