Divulgados os vencedores do 1º Prêmio FIERO-SENAI-SEBRAE de Inovação Industrial
Crise do crédito no Brasil e a necessidade de nos prepararmos para o fim da deflação chinesa
O acesso ao crédito no Brasil é uma barreira significativa para empresas e consumidores, uma realidade marcada por altos custos e oferta escassa. A Confederação Nacional da Indústria (CNI) e a Federação das Indústrias do Estado de Rondônia (FIERO) alertam que esse cenário impede o avanço de projetos cruciais para o desenvolvimento econômico do país, afetando especialmente o setor industrial, onde cadeias produtivas mais longas sofrem com o acúmulo de custos financeiros ao longo das etapas produtivas. O resultado é um encarecimento do produto final, comprometendo a competitividade brasileira.
O elevado custo do crédito no
Brasil é, em grande parte, consequência de uma taxa básica de juros real muito
alta, agravada por um spread bancário expressivo. Com a Selic fixada em 10,5%
ao ano e a inflação esperada de 3,83% nos próximos 12 meses, a taxa de juros
real brasileira alcança 6,42%, significativamente superior à taxa de juros
neutra estimada pelo Banco Central, de 4,75%. Isso demonstra que o país adota
uma política monetária contracionista, que já se estende desde fevereiro de
2022, impactando o crescimento econômico. Cada ponto percentual a mais na Selic
representa cerca de R$ 40 bilhões por ano em despesas com juros.
“Não há mais espaço para novos
aumentos da Selic”, destaca o presidente da CNI, Ricardo Alban. “Com os sinais
de desaceleração da inflação e o cenário global de cortes nas taxas de juros, o
Brasil deve aproveitar o momento para reduzir a Selic. A manutenção de uma
política monetária tão conservadora coloca o país em uma posição desfavorável
na competitividade global e penaliza o crescimento econômico”, reforça Alban.
O Brasil ocupa a terceira
posição mundial em termos de juros reais, atrás apenas de Turquia (12% a.a.) e
Rússia (7,55% a.a.). Esse cenário contrasta fortemente com a realidade de
outros países em desenvolvimento, como África do Sul, Índia e China, que
possuem taxas de juros reais consideravelmente mais baixas (3,89% a.a., 2,16%
a.a. e 1.15% a.a., respectivamente).
Essa diferença também se
verifica quando comparamos o Brasil a economias desenvolvidas. O Reino Unido,
por exemplo, apresenta uma taxa de juros real de 2,39% ao ano, muito inferior à
brasileira, apesar de seu nível elevado de endividamento e crescimento
econômico mais modesto.
Exportação de deflação pela China e riscos para o Brasil
O Brasil tem mantido sua taxa
de juros elevada mesmo em um contexto global que se beneficia da deflação
exportada pela China, impulsionada pelos baixos custos de produção e elevados
subsídios governamentais. Estimativas indicam que, em 2019, o governo chinês
destinou € 221,3 bilhões (1,73% do PIB) em subsídios ao setor produtivo, o que
manteve os preços das exportações chinesas baixos, pressionando a inflação
mundial para baixo, inclusive no Brasil.
No entanto, essa dinâmica pode
estar próxima de uma mudança. Com o aumento do protecionismo em várias economias
e a possibilidade de a China enfrentar restrições fiscais, o efeito
deflacionário dos produtos chineses pode diminuir ou até desaparecer. Se isso
ocorrer, o Brasil deverá estar preparado para enfrentar um cenário de inflação
crescente, o que pode resultar em novas elevações na taxa de juros.
Política monetária
conservadora mantém Selic acima do necessário
Além de elevada em comparação
com outros países, a Selic atual é considerada excessiva mesmo para as
condições inflacionárias internas. Considerando a inflação acumulada nos
últimos 12 meses, a CNI estima que a taxa básica de juros de equilíbrio deveria
estar em 7,95% ao ano, o que colocaria a Selic 2,55 pontos percentuais acima do
nível necessário para conter a inflação e evitar prejuízo ao crescimento
econômico. Mesmo ao considerar a expectativa de inflação, a taxa de juros de
equilíbrio seria de 9,70% ao ano, ainda assim abaixo dos 10,5% praticados
atualmente.
Além da alta Selic, o Brasil
enfrenta um dos spreads bancários mais altos do mundo, atingindo 27,4%, segundo
o Banco Mundial. Essa diferença é acentuada quando comparada a países como o
Peru, onde o spread é de apenas 7,8%. A elevada concentração bancária no Brasil
contribui para essa distorção. Em 2021, cinco bancos dominavam quase 80% dos
ativos do sistema bancário, o que limita a competitividade e eleva o custo do
crédito para as empresas.
Em junho de 2024, as empresas
brasileiras se financiavam, em média, a uma taxa de 20,94% ao ano. Pequenas
empresas, contudo, enfrentam condições ainda mais duras, com taxas quase duas
vezes superiores à média.
Redução global dos juros
pressiona Selic mais baixa no Brasil
Com a tendência global de
redução das taxas de juros, o Brasil corre o risco de se distanciar ainda mais
do cenário internacional se mantiver sua Selic nos patamares atuais.
Recentemente, países como China e México reduziram suas taxas básicas, enquanto
economias desenvolvidas, como o Reino Unido e o Canadá, também seguiram o mesmo
caminho. Nos Estados Unidos, o Federal Reserve sinaliza uma possível redução na
taxa de juros, o que pode abrir uma oportunidade para o Brasil diminuir sua
Selic sem reduzir o diferencial de juros em relação às economias mais
avançadas. Esse movimento poderia aliviar a pressão sobre o câmbio e,
consequentemente, sobre a inflação.
A redução dos juros em
economias desenvolvidas aumenta a liquidez global, com investidores buscando
maior rentabilidade em mercados emergentes. Essa é uma janela de oportunidade
que o Brasil deve aproveitar para atrair investimentos produtivos e modernizar
seu parque industrial.
Esses investimentos serão
cruciais para que o país esteja preparado para o fim da “exportação de
deflação” pela China. Quando essa dinâmica terminar, o Brasil precisará de uma
estrutura produtiva mais robusta para suprir a demanda atualmente atendida
pelos produtos chineses, tanto no mercado interno quanto nas exportações.
“A sincronia entre a política
fiscal, com os cortes de despesas anunciados pelo governo, e a política
monetária pode criar as condições necessárias para uma redução mais acentuada
dos juros no curto prazo, posicionando o Brasil de forma mais estratégica no
cenário internacional e promovendo o crescimento sustentável”, conclui o
presidente Alban.
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