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Eventual novo aumento da Selic é consequência da longa cultura de alta dos juros reais, avalia CNI
Continuidade
do ciclo de alta dos juros desconsideraria esforços em curso na política fiscal
e na atividade econômica
A Confederação Nacional da Indústria (CNI) classifica como “a crônica de uma morte anunciada” de cultura
dos juros altos o eventual aumento da taxa Selic pelo Comitê de Política
Monetária (Copom) do Banco Central. A ponderação é de que a esperada continuidade
do ciclo de alta dos juros desconsideraria os esforços em curso na política
fiscal e na atividade econômica e traria efeitos negativos sobre a criação de
emprego e renda.
Nesse sentido, os diversos
setores econômicos defendem um pacto nacional, balizado por elementos que levem
o Brasil à prosperidade. Isso significa criar um consenso em torno de metas
fiscais e de políticas econômicas estruturantes, garantindo estímulos seletivos
que assegurem a continuidade dos investimentos, voltado para a sustentabilidade
do desenvolvimento econômico e social a médio e longo prazos.
Insistir no aumento da Selic,
considerando que já tem embutidos juros reais de cerca de 7%, faz com que o
setor industrial adie investimentos essenciais, voltados à modernização ou expansão
da sua matriz de produção, deixando de melhorar sua produtividade e
desperdiçando oportunidades de contribuir com o crescimento do país.
Aspectos positivos do quadro
fiscal têm que ser mais valorizados
Segundo a CNI, o pacote de
corte de gastos proposto pelo governo federal e aprovado pelo Congresso
Nacional no fim do ano passado é relevante, uma vez que a economia com despesas
primárias federais em 2025 e em 2026 pode chegar a R$ 70 bilhões. Além disso, o
Executivo já manifestou que deve propor, ainda este ano, novas medidas para
garantir o equilíbrio fiscal.
Para a CNI, é preciso
considerar a forte desaceleração do impulso fiscal observada desde o segundo
semestre de 2024, quando os gastos federais caíram 2,9%, em termos reais, em
relação ao segundo semestre de 2023. Essa tendência deve ser mantida em 2025,
quando as despesas federais devem ter aumento real de 2,3%, contra aumento
próximo a 4% em 2024.
A CNI ressalta que há consenso
quanto ao cumprimento da meta de resultado primário de 2024 (considerando sua
banda inferior), e que o cumprimento da meta, em 2025, é totalmente factível,
dependendo de um contingenciamento de apenas R$ 4,2 bilhões – também considerando
o limite inferior da meta.
Depreciação do real adveio de
reação precipitada
Para a CNI, a pressão sobre as
expectativas de inflação se deu após um movimento de depreciação do real. A
desvalorização da moeda foi influenciada por uma reação exagerada a respeito da
qualidade do pacote fiscal do governo federal.
Segundo a CNI, o aumento da
taxa de juros custa caro para a dívida pública. Se a Selic subir 1 ponto
percentual (p.p.) na próxima reunião do Copom, o custo da dívida bruta federal
aumentará em R$ 50 bilhões, de acordo com estimativas do próprio Banco Central.
Selic está em patamar
excessivo e coloca o Brasil em posição desvantajosa
A taxa de juros real – que
desconta a inflação – está em 6,8% ao ano (a.a.), ou seja, 1,8 p.p. acima da
taxa de juros neutra estimada pelo Banco Central, de 5% a.a. Isso caracteriza
uma política monetária bastante contracionista. Vale pontuar que a política
monetária está contracionista há três anos. Com isso, o Brasil permanece na
parte de cima do ranking mundial das maiores taxas de juros reais, atrás apenas
da Turquia e da Rússia.
No atual patamar de 12,25%
a.a., a CNI estima que a Selic está, no mínimo, 2,45 p.p. acima da taxa de
juros de equilíbrio, de 9,80% a.a., que seria aquela necessária para, de um
lado, conter a inflação e, de outro, reduzir os impactos sobre o crescimento
econômico.
Juros elevados comprometem a
atividade econômica e abalam a confiança dos empresários
Após a desaceleração observada
no PIB do terceiro trimestre de 2024, os dados de atividade do último trimestre
(até novembro) mostram que a tendência se manteve.
Em novembro de 2024, a
produção industrial caiu 0,6% em relação a outubro, sendo o segundo mês
consecutivo de queda. No varejo, o volume vendido diminuiu 1,8% em novembro,
revertendo o crescimento que havia sido registrado no mês anterior. Já nos
serviços houve recuo de 0,9% em novembro, o que praticamente anulou a alta
obtida em outubro.
Esse cenário de perda de ritmo
da atividade econômica, somado às altas nos juros, tem minado a confiança dos
empresários industriais. Em janeiro de 2025, o Índice de Confiança doEmpresário Industrial (ICEI), da CNI, caiu para 49,1 pontos – a quarta queda
seguida.
Aumentar a Selic traz mais
custos para as empresas
Para os empresários que
precisam investir na compra de máquinas e equipamentos, ou mesmo contratar
capital de giro par fazer frente às necessidades financeiras do dia a dia, o
custo do crédito fica ainda mais caro com a subida da Selic, sendo um
impeditivo para a execução de diversos projetos, fazendo com que o Brasil
desperdice uma série de oportunidades.
A CNI destaca que o custo
financeiro dos juros altos se acumula ao longo da cadeia produtiva, o que
amplifica seus danos. Na indústria, setor que é estruturado em cadeias longas,
esse efeito é devastador. O custo financeiro embutido no produto industrial
final pode representar até 25% do preço ao consumidor, o que é insustentável
para a competitividade do setor.
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